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Eu queria avançar para o começo.

Chegar ao criançamento das palavras.

Sou um sujeito cheio de recantos.

Os desvãos me constam.

É no ínfimo que eu vejo a exuberância.

Perder o nada é um empobrecimento.

Tudo que não invento é falso.

Tem mais presença em mim o que me falta.

Por pudor sou impuro.

Não preciso do fim para chegar.

A expressão reta não sonha.

É preciso transver o mundo.

 

Manoel de Barros

(Do livro “Livro sobre o Nada”)

 

Multipliquei-me,

para me sentir.

Para me sentir,

precisei de tudo.

Transbordei,

não fiz senão

extravasar-me.

Despi-me,

entregeui-me,

e há em cada canto

da minha alma

um altar a um deus

diferente.

 

Para ser grande, sê inteiro

nada teu exagera ou exclui.

Sê todas as coisas

Põe quanto és no mínimo que fazes

Assim em cada lago a lua toda brilha

Porque alta vive.

                                  

Fernando Pessoa

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